Mensagem Quaresmal do Cardeal Patriarca de Lisboa

Na sua Mensagem Quaresmal, com o título Quaresma, tempo de purificação da fé e da caridade, o Cardeal Patriarca de Lisboa, refere que pretende, apenas, interpelar a Igreja de Lisboa e cada um de vós, a tomar a sério a palavra do Papa, vivendo esta Quaresma como uma etapa importante da nossa “peregrinação da fé”.


Neste tempo litúrgico preparamos a Páscoa, manifestação forte do amor de Deus pelos homens, tão intenso que se pode fazer sentir, no coração humano, até ao fim dos tempos. Na Páscoa cada homem pode sentir-se profundamente amado por Deus e partir para uma maneira de viver centrada no amor, a Deus e ao próximo. Apesar da sua intensidade, só na fé podemos sentir esse amor de Deus; só no Céu o experimentaremos em toda a sua beleza. Então será tão intenso que reduzirá a nossa existência a esse momento em que somos amados e amamos como Ele ama. 

Sendo a Quaresma um tempo de purificação e de penitência, devemos com confiança, purificar as nossas maneiras de acreditar e de amar

 O que significa a fé na nossa vida? As suas expressões têm a densidade do amor?

Quando dizemos “eu creio”, afirmamos apenas que sabemos que Deus existe e esperamos que nos ajude, ou afirmamos que sabemos que Ele nos ama e nos convida a amar? Acreditar é saber-se amado por Deus, o que é a fonte da nossa confiança e do sentido da nossa vida.


Muitas das expressões da nossa fé não têm esta densidade do amor: são atos rituais duma tradição religiosa, formas de pedir a Deus ajuda para as nossas necessidades, oração pelos nossos mortos, etc. Está a nossa fé, nas suas expressões, enraizada na escuta atual e continuada da Palavra do Senhor? A Sua Palavra toca-nos o coração?

Só a fé viva, ela própria acolhimento do amor, nos pode conduzir no caminho da purificação das nossas expressões de amor. Cada uma delas e todas elas têm de ser, antes de mais, amor a Deus. Esse é o primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas. Só a fé nos leva a amar a Deus quando amamos os irmãos, porque Ele os ama primeiro e porque os amamos participando da Sua maneira de amar.

Para amarmos verdadeiramente, Deus redime-nos continuamente com o Seu amor.

Que nesta peregrinação, durante a Quaresma, cada um analise as principais expressões de amor na sua vida, e peça a Deus que as purifique e lhes dê a pureza da caridade, isto é, do amor que tem a sua fonte em Deus e é participação no modo de Cristo amar, o Pai e os homens seus irmãos.

Deixemos que a Páscoa de Jesus redima e transforme todas as nossas experiências de amor: o amor esponsal, o amor fraternal e filial, todas as nossas amizades, a partilha solidária com os irmãos que precisam.

O processo da purificação da fé e do amor faz-se pelo acolhimento contínuo da Palavra de Deus e pelo mergulhar na Páscoa de Jesus através dos sacramentos, de modo particular o da Reconciliação e da Eucaristia.

Somos chamados a purificar, também, a nossa partilha quaresmal, entre nós designada “Renúncia Quaresmal” e que este ano, mais uma vez, se destinará a partilhar com Igrejas irmãs que nos solicitem ajuda, sem excluir situações de pobreza da própria família diocesana. Destiná-la, de modo especial, à ajuda fraterna de outras Igrejas, ajudar-nos-á a valorizar o verdadeiro horizonte da fé e da caridade, que não se limita às pessoas individuais, mas que é atitude da Igreja, comunidade crente e Povo do Senhor.

Que Maria, nossa Mãe, nos conduza nesta purificação da fé, para dela fluir sempre a caridade e alegria da Páscoa.


Sem comentários: