Homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa na noite de Natal



A luz de Cristo é a luz de Deus que pode brilhar no coração do homem revelando-lhe a verdadeira vida.

A luz brilhou nas trevas. Estas trevas são a situação da humanidade que se esqueceu de Deus e deixou de perceber na Sua luz o sentido e a grandeza da vida. Cristo é luz porque é o Salvador, Aquele que restitui aos homens a capacidade de perceberem a vida e todas as realidades que a tecem, à luz de Deus. É luz porque revela o sentido, ilumina o caminho, anuncia a plenitude da vida e, por isso, é fonte de alegria.
A tradição cristã viu claramente que esta luz é a luz da fé. Não anula a inteligência como fonte de luz, nem a compreensão que brota da experiência humana. Mas a fé corrige e plenifica essas fontes humanas de luz. A fé é fonte de discernimento que, ao iluminar a realidade do homem, o seu presente e o seu futuro, indica caminhos de verdade, de amor, de contemplação.

A interpelação que o Natal nos faz é esta: a luz de Cristo ilumina, hoje, a nossa vida?

Como chega ao nosso íntimo o esplendor dessa luz de Cristo? Antes de mais, escutando a sua Palavra. Cristo é luz e fonte de luz. Na sua humanidade, sobretudo nas expressões do seu ministério, a sua Palavra, os acontecimentos que realiza, irradiam para os que O seguem, a luz de Deus.

Cada Palavra de Cristo é raio de luz, que nos comunica o amoroso desígnio de Deus, e no qual o próprio Cristo se comunica a Si mesmo, na intimidade luminosa com Deus Pai. A sua Palavra é perene, permanece para sempre, ou seja, mantém a força para iluminar aqueles que a escutam. Quem acolhe, com fé, a Palavra de Cristo, acolhe o próprio Cristo. Aí a fé desabrocha em relação de amor, que nos envolve na luz que brilha em todo o seu ser de ressuscitado.

A escuta da Palavra põe-nos a rezar e ajuda-nos a descobrir a oração como o momento privilegiado para acolher a luz de Cristo. A oração é a experiência em que Cristo nos envolve na sua luz. De modo particular, a oração sacramental, onde a escuta da Palavra nos faz encontrar Cristo. No Baptismo, é a atracção da luz que nos leva a comprometer a vida com Cristo; na Confirmação brilha sobre nós a luz do Espírito Santo. Na Eucaristia, unidos a Cristo na oferta do sacrifício redentor, deixamo-nos inundar pela luz do Corpo glorioso do Senhor. Aí a luz é luminosidade do amor. Na Penitência, a luz de Cristo faz-nos conhecer o nosso pecado e trilhar os caminhos que ela nos indica; no Matrimónio, os esposos percebem, nessa luz, a beleza de uma vocação de comunhão; na Unção dos Doentes, a luz de Cristo ajuda-nos a oferecer o nosso sofrimento unidos ao seu sacrifício.

Se a oração sacramental continuar na adoração pessoal, aí a luz gloriosa de Cristo pode iluminar toda a nossa vida, ser experiência de encantamento, de alegria e de êxtase.

A mensagem do Profeta Isaías anuncia-nos a luz de Cristo, “para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar” (Is. 9,2-7). Desejo-vos a todos que este Natal seja a festa da Luz de Cristo a iluminar os caminhos da nossa vida.

Homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa na noite de Natal 2011

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