Caríssimos Paroquianos


Caríssimos Paroquianos, como é do vosso conhecimento estou de partida para a Paróquia de Santa Maria dos Olivais para assumir pela primeira vez a responsabilidade de Pároco. Fui ordenado Padre, em Julho de 2007 e vim logo para Benfica como Vigário Paroquial. Como devem calcular, também esta missão foi um grande desafio. Foram os três primeiros anos de Padre a servir numa das maiores paróquias da cidade de Lisboa.

Muitas pessoas perguntavam se a paróquia é difícil, ou se gosto da comunidade. Confesso que nunca olhei assim para este desafio, e que a pergunta nunca fez muito sentido. Primeiro, não sei bem distinguir se as dificuldades que encontrei tinham a ver com o ser padre ou com a comunidade em si, ou onde acaba um e começa outro. Depois, aquilo que para mim é importante é encontrar a melhor maneira de lidar com o que são as minhas próprias dificuldades espirituais e humanas, para então ser capaz de lidar com os problemas da comunidade. Efectivamente, sempre pensei que a conversão pessoal é a solução, não só para a minha vida e vocação, mas também para a Igreja. Neste sentido, felicidade pessoal e bem comum coincidem, enquanto caminho de santidade — serviço — caridade. No fundo, o essencial é converter-me e, assim, ser testemunho do Amor de Deus. Para mim, este foi o maior e o mais importante desafio da minha estadia em Benfica como padre, e este sim, foi, como os jovens dizem, brutal, assim como o é, igualmente, o da felicidade e liberdade. Tive a graça de travar esta luta nesta Paróquia, e nela ser Padre e ser feliz.

Fui Padre na celebração dos sacramentos e em especial na Missa. Para mim presidir à Eucaristia é sempre um momento único que só Deus sabe. Ao presidir à Missa no banquete da Palavra e do Pão morro para mim mesmo e ressuscito para Deus, servindo e amando os irmãos e irmãs da assembleia, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Muitas são as vezes que termino uma celebração e desejaria fazer o que faço na Missa Dominical: cumprimentar aqueles que partilharam a experiência da mesma fé, esperança e caridade. De facto, sinto que todos os que celebram a missa se convertem em próximos. Para mim, de certa forma, presidir à Missa é casar com a comunidade, tipo esposo - esposa, Cristo - Igreja. Esta ligação, sendo Espiritual, é profundamente humana, olho para os participantes desta grande festa como íntimos, como amigos. Hoje entendo melhor as palavras de Jesus, "já não vos chamo servo mas amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai". Sei porém que estou muito longe deste "tudo" de Jesus. Não sou capaz de dizer tudo o que o Pai me diz porque o meu pecado dificulta tanto no ouvir como dizer... Mas sei também que "onde abunda o pecado, superabunda a graça", e o mistério está muito acima da minha fraca compreensão. É assim que dou cada dia, em cada Missa, o salto do abandono nas mãos do Deus Único, Invisível e Omnipotente, implorando a misericórdia e graça, para mim e para os que Ele me confia.

Acompanhei a maravilhosa e complexa missão de transmitir hoje a fé da Igreja na Catequese Paroquial. Juntos procuramos ler os sinais dos tempos. investimos nas relações e na vida espiritual. crescemos na proximidade e na criatividade. Enfim juntos enfrentámos apelos, dificuldades e caminhos novos no desenvolvimento dos talentos dos catequistas, catequisandos e pais. Tivemos alegrias e dores mas seguimos em frente na construção e renovação, em continuo esforço de sintonizar com o Espírito Santo.

Ser Padre em Benfica foi ir ao encontro dos doentes com o Senhor do Caminho, da Verdade e da Vida, com a fé que não engana e a todos dá, dentro e fora do tempo, na saúde e na doença, a eternidade. Foi ser uma extensão da Mãe que ampara em Benfica, levando Jesus aos mais necessitados.

Ser Padre em Benfica foi ir ao encontro dos jovens propondo caminhos novos. É um terreno ainda por desbravar, mas tivemos momentos de singular alegria!!! Lembro a Missão em Calcutá e a peregrinação de bicicleta com os Caminheiros assim como as comemorações dos 25 anos do Prior entre muitos outros... Senti ser Padre na transmissão da Vida, no testemunho do caminho percorrido. Sei por experiência própria que é uma etapa da vida difícil e que a Igreja deve assumir o risco de ser companheira.

Caminhei e partilhei a vida com o P. Traquina, com aqueles que estavam nos serviços paroquiais que me foram confiados, com todos os grupos envolvidos na Pastoral da Paróquia, enfim, com todos aqueles que me procuraram ou encontrei nas encruzilhadas diversas dos dias, estradas e portas de Benfica.

Na verdade e no fundo, não há ninguém com quem tenha partilhado caminho nesta Paróquia que não me tenha marcado. Um rosto, uma palavra, uma mão, um pedido, um sorriso. Escrevemos belas páginas estes anos, sempre com o drama de encontros e desencontros, mas nunca uma tragédia, porque há sempre um amanhã para os crentes. Há sempre um futuro comum, seja no tempo e no espaço, seja no Espírito e na Eternidade. Beijinhos e abraços e até sempre.

P. Duarte

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