Mensagem do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, para a Quaresma 2014

Na sua Mensagem para a Quaresma, o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, começa por referir que as práticas deste tempo litúrgico, tradicionalmente repartidas entre “oração, jejum e esmola”, recordam-nos em linguagem de hoje a conversão prioritária a Deus, que não trocaremos pelo excesso do consumo e serviremos no cuidado do próximo. Assim unidas, manifestam-se em Cristo, na sua permanente ligação ao Pai, cuja vontade era o seu alimento, e no serviço dos outros, por quem deu inteiramente a vida.

Deus Pai entregou-nos Cristo, que «se fez pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza» (cf. 2 Cor 8, 9), como lembra o Papa Francisco, intitulando assim a mensagem quaresmal que nos dirigiu.

A mensagem papal quer-nos exatamente assim, como Cristo foi em relação a todos, de pobres para pobres, em partilha autêntica. E quer-nos a nós, os que participamos do Espírito de Cristo, «a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar». Material, moral ou espiritual, a miséria dos outros é o campo aberto da Quaresma que temos, para que, através de nós, Cristo continue a responder a tantas necessidades que o mundo apresenta.

O Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium, afirma que «Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus manifesta a sua misericórdia antes de mais a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem “os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” (Fl 2, 5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja. […] Por isso desejo uma Igreja pobre para os pobres» (EG 198).

Como sabemos, o Papa Francisco apresentou-nos a sua exortação apostólica como um “programa” geral para a Igreja nos próximos tempos, esperando «que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão» (EG 25). E o que seja esta conversão pastoral e missionária esclarece-o mais à frente: «A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade» (EG, 27).

Comecemos ou continuemos então, fazendo desta Quaresma um momento forte do caminho sinodal que até 2016 mobiliza o Patriarcado, para cumprir as indicações do Papa Francisco, «no sonho missionário de chegar a todos» (EG 31).

Finalmente, e para concretizar também num gesto coletivo a nossa exercitação quaresmal, a renúncia que fizermos este ano destina-se a apoiar a Ajuda de Berço – Associação de Solidariedade Social, no seu generoso propósito de construir uma Unidade de Cuidados Continuados para crianças que têm problemas crónicos graves de saúde.

E é neste caso que em especial concretizaremos a “opção pelos pobres” a que o Evangelho e o Papa Francisco tão fortemente nos exortam.
- Convosco e rumo à Páscoa!

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