«Felizes os pobres em espírito, porque
deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3)
O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Juventude que se celebra a nível diaocesano no Domingo de Ramos, 13 de Abril, convida os jovens a fazer um caminho de reflexão durante os próximos três anos - até à próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens a ter lugar em Cracóvia - sobre as Bem-aventuranças referidas no Evangelho de S. Mateus (5, 1-12).
Começaremos este ano meditando sobre a primeira: «Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3); para 2015, proponho: «Felizes
os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); e finalmente, em
2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»
(Mt 5, 7).
Ao proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com
Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada
fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos.
As Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum
modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass
media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um
escândalo que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa
cruz. Na lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados
«perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o bem-estar,
a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.
Queridos jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de
vida, para que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à
verdadeira alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de
perguntar aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam
ir por outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a
coragem de responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida
eterna» (Jo 6, 68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a
vossa vida jovem encher-se-á de significado, e assim será fecunda.
«Bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à
felicidade?
Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade, corre-se o
risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida. Vós, pelo
contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações!
Se verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso
coração, dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de
felicidade, e isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a
baixo preço» que encontrais ao vosso redor.
Os jovens que escolhem Cristo são fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se
«empanturram» com outras coisas. Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende
a coragem da verdadeira felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da
superficialidade e do descartável, que não vos considera capazes de assumir
responsabilidades e enfrentar os grandes desafios da vida.
A primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude,
declara felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Em que sentido podemos conceber a pobreza como uma bênção?
Em primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em
espírito». Quando o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de
pobreza, de despojamento.
Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da pobreza feita
por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2
Cor 8, 9).
Mas, em concreto, como é possível fazer com que esta pobreza em espírito
se transforme em estilo de vida, incida concretamente na nossa existência?
Respondo-vos em três pontos.
Antes de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor
chama-nos a um estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade,
chama-nos a não ceder à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade,
aprender a despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam.
Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois
esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de
nós.
Em segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de
conversão em relação aos pobres.
A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de colocar a solidariedade no
centro da cultura humana.
Mas – e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos
apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos
ensinar. Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a humildade e a confiança em
Deus.
Há uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última
Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»
(Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque
deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que
evangelize os pobres.
A evangelização, no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.
À vista do exemplo e das palavras de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade
que temos de conversão, de fazer com que a lógica do ser mais prevaleça
sobre a lógica do ter mais. Os Santos são quem mais nos pode ajudar a
compreender o significado profundo das Bem-aventuranças. Neste sentido, a
canonização de João Paulo II
, no segundo domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração
de alegria. Ele será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que
foi o iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser,
para todos vós, um pai e um amigo.
A alegria do Evangelho brota dum coração pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela, a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da felicidade.
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