Homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa no Dia de Natal 2012


Nesta  celebração da Solenidade do Natal, os textos da Sagrada Escritura que agora escutámos põem-nos realisticamente perante a urgência da Missão. Isaías proclama: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa-nova, que proclama a salvação” (Is. 52,7). Os anjos anunciaram aos pastores, os magos seguiram a estrela que os conduziu a Cristo. A Igreja de hoje, numerosa em toda a terra, é composta por todos aqueles a quem chegou esta notícia do nascimento do Salvador, o próprio Filho de Deus feito Homem. Mas quando cada cristão se encontra com Cristo, escuta a sua Palavra, e na fé experimenta já a alegria da liberdade, é imediatamente enviado, com urgência, a anunciar, a proclamar que Ele é o nosso libertador, que vale a pena segui-l’O, que é maravilhoso amá-l’O.


O Evangelho de São João continua a ser, hoje, uma afirmação chocante que não nos pode deixar indiferentes: “N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam”. É grave, na nossa vida, fecharmo-nos à luz. “E o Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam”.

Veio para o que era seu, porque foi criador de todas as coisas e porque ao fazer-se Homem se uniu intimamente a todos os homens. Mesmo os que não O conhecem têm no seu coração a sua marca, “as sementes do Verbo”, que podem desabrochar num reconhecimento, num encontro pessoal que transforma a vida.


Nós, os crentes, temos de tomar a sério estas palavras e ao fazê-lo enfrentamos o drama chocante da humanidade: Ele continua a vir para o que é Seu, e os seus não O recebem, Ele quer inundar de luz, de paz, de esperança e de alegria os corações sofridos e atribulados, mas há tantos que recusam a luz. Neste Ano da Fé assumamos que Ele espera que nós os crentes sejamos portadores da luz, anunciadores da esperança e da alegria. Quando se encontrou connosco, cumulou-nos de dons: “àqueles que O receberam e acreditaram no seu Nome deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”. Mas ele espera de nós, que com a nossa vida, pela nossa palavra convicta, pelo testemunho do nosso amor, O anunciemos àqueles que até agora não O acolheram, um pouco por culpa nossa, porque não O anunciamos.


Estejamos atentos às buscas, às inquietações das pessoas que nos rodeiam, pois como afirma o Papa Bento XVI “não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro preâmbulo da fé”. Talvez que, para que isso aconteça, baste o nosso testemunho de fé.

Um dos desafios da nova evangelização é o de encontrar novos caminhos para o anúncio da fé cristã neste tempo, que é o nosso. Partilhemos a esperança de Isaías: “O Senhor descobre o seu Santo braço à vista de todas as nações e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus”. Não relativizemos esta urgência, pois é importante os homens encontrarem-se com Jesus Cristo, pois só Ele nos conduzirá a Deus. É urgente inventarmos novos caminhos de missão.

Homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa no Dia de Natal 2012



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