Cáritas Diocesana de Lisboa: Projecto Amigo quer levar diocese a recolher roupa usada

Recolher roupa usada para reutilização é o objectivo do Projecto Amigo que a Cáritas Diocesana de Lisboa vai levar a efeito este fim de semana, nos dias 17 e 18 de Novembro.

A ideia que a Cáritas Diocesana de Lisboa vai pôr em prática, de recolher roupa usada para reutilização, nasce a partir de um projecto semelhante, desenvolvido em Itália por um grupo de empresas sociais locais e as Caritas Diocesanas de Lecce e Nápoles. Segundo revela ao Jornal VOZ DA VERDADE o presidente da Caritas Diocesana, José Frias Gomes, estes projectos já foram visitados por alguns voluntários da Cáritas de Lisboa, permitindo assim, que haja “alguma confiança para que o projecto se inicie também em Portugal”. Segundo este responsável, que está à frente desta instituição diocesana desde há seis anos, “já anteriormente foram estabelecidos contactos por outras entidades que operam com intuitos diversos, mas a Cáritas Diocesana optou por colaborar com a 'Remari', uma empresa que já tem ligação a outras instituições da Igreja”, sublinha.

Envolver a Diocese
A ideia principal deste projecto “é lançar o desafio às paróquias para que promovam esta acção junto das comunidades”, e por isso mesmo já foram contactadas as Vigararias da Diocese de Lisboa.

“Doze Vigararias já nos contactaram de volta indicando pelo menos 2 a 3 paróquias onde vão ser efectuadas as recolhas servindo como ponto de concentração”, observou José Frias Gomes.

A campanha vai ter uma primeira fase a decorrer no dia 18 de Novembro, nas paróquias que já aderiram, e “as roupas deverão ser entregues em sacos que serão depois guardados até ser efectuada a recolha por parte da Cáritas”, explica o presidente da instituição. “Estima-se que no máximo a recolha demore semana e meia e caso as paróquias não tenham espaço podem pedir a outra paróquia que tenha aderido à campanha para guardar, ou em último caso contactar a Cáritas para que esta faça a recolha directa dos bens”.

Gestão dos bens recolhidos
Actualmente os bens utilizáveis que a Cáritas Diocesana recolhe “passam por uma triagem e são armazenados num armazém”. A partir daí a Cáritas vai respondendo às solicitações das lojas de que dispõe, bem como às de outras instituições. “Neste momento estamos a fornecer presídios, hospitais, lares e inclusivamente algumas instituições de crianças ligadas ou não à igreja. No entanto estes bens não chegam através de uma recolha organizada. Por isso, a ideia do 'Projecto Amigo' é tornar este processo mais consistente e organizá-lo de forma a dar uma resposta rápida e eficaz à procura, que nos últimos tempos tem vindo a crescer consideravelmente”, explica José Frias Gomes.

A ideia da Cáritas Diocesana de Lisboa é a de “continuar a triagem dos bens, sendo que os que estiverem em condições de doação serão encaminhados para as lojas da Cáritas mediante os pedidos”. Os que não estiverem em condições de doação “serão separados e enviados para Itália para serem aproveitados na indústria para componentes de isolamento ou para serem reciclados”, refere o presidente da instituição ligada à Diocese de Lisboa. “Dessa reutilização dos bens enviados decorrerá algum financiamento para a Cáritas que vai ser integralmente colocado à disposição do nosso fundo diocesano”, garante.

Projecto Amigo: Presente e Futuro
A campanha que vai decorrer no dia 18 de Novembro insere-se numa fase de 'projecto-piloto', para qual a Cáritas conta com “a adesão das pessoas”, e vai servir de divulgação do projecto que espera “criar uma dinâmica junto das comunidades e paróquias para que, no futuro, haja uma rotina de um trabalho continuado na recolha de bens”, comenta José Frias Gomes.

Segundo este responsável, após esta fase inicial do Projecto Amigo, a ideia da Direcção da Cáritas Diocesana de Lisboa é a de dar a este projecto “uma escala e dimensão relativamente elevadas”, de forma a que possa levar “à criação de uma empresa social que dê emprego a pessoas desempregadas, para fazerem a triagem e o empacotamento de todas as roupas”. “Uma empresa tipo cooperativa em que se favorece a situação de emprego, dando oportunidade a pessoas que se encontram no desemprego e em situação de carência”, sublinha. Por outro lado, José Frias Gomes adianta, ainda, ao Jornal VOZ DA VERDADE, que esta seria “uma maneira de valorizar bens, que de outra forma teriam um valor muito residual, em favor do fundo diocesano”. “E se for possível, eventualmente uma vez por ano apoiar uma das nossas instituições mais em dificuldade no âmbito da diocese”, observa.

Lojas 'É dado'
A Cáritas Diocesana de Lisboa dispõe, actualmente, de duas lojas Solidárias 'É dado' e tem em perspectiva abrir uma terceira “para acompanhar o excesso de procura resultante da actual situação económica das famílias”, revela José Frias Gomes. As lojas, que “têm funcionado bastante bem”, tem o seu funcionamento assegurado “apenas por voluntários da Cáritas”, sendo 90% de todo o sistema de recolha, triagem, embalagem e distribuição conseguido pela rede de voluntários da Cáritas.

Actualmente, para além dos funcionários que se encarregam pela distribuição de roupas, calçado, livros e brinquedos, existe uma assistente social em permanência. “Agora as pessoas falam mais, mas há um ano, quando começámos com este serviço, as pessoas vinham ainda de forma envergonhada, pedir apenas para os filhos. Com a assistente social, era mais fácil falar individualmente com as pessoas, de forma a dar informação mais concreta sobre a sua situação”, salienta.

Desta forma foi possível à Cáritas anexar ao serviço de distribuição de bens também a parte do apoio social no âmbito da igreja.

”A loja em si funciona como uma loja comercial. As pessoas entram, os bens estão organizados por sexo (mulher/homem) e crianças. Faz-se a rotação de roupas mediante as estações do ano, e as pessoas escolhem o que gostam., Dentro das possibilidades, provam e depois é-lhes dado”, refere.

Nas lojas existe ainda uma ficha por família ou por pessoa. “Normalmente as pessoas contactam a Cáritas antes de irem, mas pode também não acontecer. A ficha serve para que haja um acompanhamento do que se está a dar e assim evita-se que muitos levem muito ou poucos levem muito, e que depois muitos fiquem sem nada”. “A ideia é fazer um acompanhamento para que haja um equílibrio na distribuição. E para além disso assim é possível registar as quantidades de bens doados”. Segundo o presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa “no final do mês de Setembro já tinham doadas cerca de 5 toneladas de bens nas duas Lojas Solidárias da Cáritas”.

A resposta da instituição ao aumento de pedidos
A Cáritas Diocesana de Lisboa assegura neste momento o atendimento social “nas lojas, na sede e ainda num Centro de Apoio ao Emigrante (CLAE), no Concelho de Cascais. O número de atendimentos relativamente até a Agosto do ano passado “cresceu 52%, dos quais 75% eram novos casos”, destaca. No CLAE houve até Agosto 621 atendimentos, dos quais 127 “aconteceram pela primeira vez”. “É uma média de 70 a 80 atendimentos por dia”, salienta José Frias Gomes.

De acordo com este responsável o crescente número de pedido “está a tornar-se uma actividade pesada que exige alguns meios técnicos e de funcionamento”, e nesse sentido a Cáritas “tem procurado dar a melhor resposta possível apoiando directamente as pessoas ou encaminhado-as”, seja para outras instituições, seja para meios que a própria Cáritas disponibilize, ou até mesmo através do Programa 'Igreja Solidária'.

Sem comentários: