Falta vontade de aprender na escola


A falta de vontade para aprender é a dificuldade mais grave que os estabelecimentos de ensino enfrentam em Portugal, considera a psicóloga Cristina Sá Carvalho, ligada ao Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), da Igreja Católica.

O maior problema que hoje enfrentamos na escola é o facto de os alunos não terem interesse em aprender nem perceberem a necessidade da aprendizagem, sublinha a especialista, em declarações que vão para o ar este domingo no programa ECCLESIA na Antena 1.

A responsável pelo departamento de catequese do SNEC sustenta que a maior parte das crianças em Portugal vai para a escola motivada por encontrar amigos e colegas, e muitas vezes também os professores, pelo que vê os estabelecimentos de ensino sobretudo como um espaço social e muito menos como um espaço de aprendizagem.

“Muitos vivem um ambiente melhor na escola do que no resto da sua vida em casa, no bairro e família”, pelo que as instituições de ensino surgem como “refúgio”, explica.

Cristina Sá Carvalho alerta que as consequências negativas do “papel exageradamente forte” dos amigos fazem-se sentir quando nem todos os colegas passam de ano ou quando as amizades são mais importantes do que a apetência pessoal por outros cursos, dado implicar a separação por causa da mudança para outra turma ou escola.

A compra de livros e materiais para o novo ano, o vestir roupa nova, por vezes herdada do irmão mais velho, ou uma festa para assinalar a mudança de ciclo são alguns dos gestos que sublinham a importância que as famílias dão ao acompanhamento escolar.

O “prazer de aprender” deve ser conjugado com o “esforço, disciplina e atenção”, o que implica o abandono das rotinas de férias, como computadores, consolas de jogos e televisões, “que devem ser afastados da mochila” durante as aulas, aconselha.

Os pais que estejam a passar por situação económica difícil devem apostar na educação dos filhos porque “é a melhor oportunidade para saírem da crise”: todos os cidadãos deviam perceber que não é secundário que uma criança esteja na escola sem aprender, sem trabalhar e sem respeitar as normas nem os professores.

A psicóloga critica as famílias que “acham engraçados comportamentos que são de subdesenvolvimento para determinada etapa da vida”, como uma criança que “já devia falar bem e fala mal”.

O crescimento equilibrado também passa pela atenção ao relacionamento pessoal, que deve integrar o horário diário: “nos últimos anos, em que imaginámos que éramos ricos, discutiu-se muito a vida de ‘executivo’ que tinham as crianças”.

Os horários “muito extensos” de escola e as atividades extracurriculares fazem com que regressem a casa “mortas de cansaço” e sem vontade nem tempo para estudar, comer e interagir com a família, observa. A especialista defende que as crianças precisam de tempo para não fazer nada e de se habituarem a estar sozinhas e a ajudar nas tarefas domésticas.

A escola deve ser também ocasião para os alunos “conviverem com outras crianças”, pelo que o recreio não deve ser aproveitado para estarem “sozinhos num canto ou com mais um ou dois colegas à volta de um equipamento eletrónico”, salienta.


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