Mensagem Quaresmal de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto - Homilia na Missa de quarta-feira de Cinzas


D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, na sua mensagem para a Quaresma, realça a importância da Mensagem do Papa Bento XVI, referindo que esta mensagem parte dum versículo da Carta aos Hebreus (10, 24), sobremaneira incisivo: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. E nesta citação vai logo o essencial, tantas vezes demorado, por estarmos mais interessados em que sejam os outros a prestar-nos a atenção e o louvor que, bem vistas as coisas, só a Deus se devem. Deus, a fonte permanente de qualquer bem que houver.
O Santo Padre prossegue a Mensagem – leitura indispensável nesta Quaresma de cada um de nós – insistindo no significado etimológico e na incidência geral que esse “prestar atenção” acarreta. Lembra, por exemplo, que o termo traduz um verbo grego “que significa observar bem, estar atento, olhar consciosamente, dar-se conta de uma realidade”.

Pois bem, amados irmãos, que atenção prestamos ou havemos de prestar, muito concretamente, a quem nos rodeia ou nos espera?
Somos cristãos do nome que nos deram. Mas sejamo-lo de facto, da vida que levamos no Espírito de Cristo, eterno adorador do Pai e constante servidor de todos, mesmo quando resistia a que lhe divulgassem os milagres, autênticos os seus. E olhemos os outros como Cristo os olhou, Ele que teve olhos humanos para ver e ser visto, com a infinda misericórdia que os Evangelhos relatam, mesmo quando propunha opções decisivas.
Façamo-lo então, amados irmãos. Tomai esta Quaresma como possibilidade e não como peso. Concentremo-nos em Deus e nos outros, em quem Ele nos espera. Deus é simples, em si e para nós.
O Bispo do Porto termina a sua mensagem propondo  quatro atitudes para esta Quaresma:
 1) Seja uma Quaresma de atenção redobrada a Deus e aos outros, interiormente orantes e exteriormente ativos, em caridade sempre.
2) Compreendamos que o amor de Deus, “derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5, 5), não contraria, antes potencia infinitamente o humano afeto, impedindo-o de se fechar ou corromper em si mesmo, sendo por isso absolutamente ilegítimo opor solidariedade a caridade: Deus, “amigo dos homens”, é por excelência o “filantropo”; como nós o seremos precisamente quando ganharmos d’Ele o amor fontal que revelou em Cristo e ofereceu no Espírito.
3) Concretizemos a atenção aos outros no aprofundamento ou recriação de vizinhanças, do modo mais positivo e prático que possa ser e a oração nos inspire, como acontece naqueles trechos evangélicos em que Jesus parte da oração para a ação imediata junto deste ou daquele, interpelando ou servindo.
4) No que à Diocese respeita, complementemos as outras exercitações quaresmais com a renúncia material, que continuará a destinar-se ao Fundo Social Diocesano, com que correspondemos a tantas solicitações que nos são feitas.

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