Mensagem do Cardeal Patriarca de Lisboa para a Quaresma

O Cardeal Patriarca de Lisboa, na sua mensagem para a Quaresma, começa por relembrar que a Quaresma é o tempo litúrgico que nos convida a situar a nossa vida cristã no essencial da sua verdade: a de peregrinos do Céu, na humildade da nossa fragilidade e na coragem da nossa fidelidade.

O Cardeal Patriarca refere que esta minha mensagem não pretende ser “outra mensagem”, ao lado da do Santo Padre, mas que possa servir para considerar alguns dos desafios que nos lança, situando-os nas realidades concretas da nossa Igreja Diocesana.

Assim, o primeiro tópico da mensagem do Cardeal Patriarca é sobre a segurança da nossa fé. A Quaresma tem de ser tempo de aprofundamento da fé, pessoal e comunitária. Quem não vive a fé, torna-a mais fraca, menos segura, mais exposta às dúvidas; quem progride na fé, torna-a mais sólida. A fragilidade da fé é a sua rotina, é a tibieza nos sentimentos, é a sua redução a tradições, que se vão esfarelando no embate com as vozes do mundo.

A firmeza da fé é um dom do Espírito Santo. A fé é para ser vivida, na ousadia da liberdade e da vida, e não para ser guardada no cofre das memórias de família. Sempre que dizemos “eu creio”, afirmamos a nossa decisão de vida, a sua compreensão e o itinerário para atingir a sua plenitude.

O segundo tópico da mensagem é sobre a persistência da esperança. A verdade da Quaresma reside na sinceridade com que nos relacionamos com Jesus Cristo, cuja Páscoa celebramos. À firmeza da fé, junta-se a persistência da esperança.

 A esperança é persistência no que já se tem, como fruto da nossa união a Cristo, e desejo de aprofundar essa vida nova. A esperança é a virtude que nos ajuda a viver toda a realidade humana à luz da Páscoa de Jesus. A esperança exprime a fé no concreto da vida presente. Só a esperança teologal nos ajuda a não “desesperar” quando o sofrimento nos bate à porta.

O terceiro tópico da mensagem é sobre a primazia da caridade. Viver unido a Cristo é uma experiência de caridade: o amor com que Deus nos ama no Seu Filho e, com a força do amor de Deus, o amor com que nos amamos uns aos outros. Quando o cristão diz “eu creio”, no fundo ele diz: “eu amo” a Deus em Quem acredito; quando diz “eu espero”, ele diz: eu desejo deixar-me amar, e desejo amar de uma maneira cada vez mais generosa e total. É a caridade, vivida e desejada, que dá densidade à fé e à esperança.

O quarto tópico da mensagem é dedicado ao amor dos irmãos, referindo o Cardeal Patriarca que o amor de Deus e o amor dos irmãos, para os cristãos, são um único amor, que é infundido no nosso coração pelo Espírito Santo. Quem ama a Deus, ama os irmãos. Compreende-se, assim, que o Santo Padre, ao desafiar-nos para uma Quaresma vivida na profunda união a Jesus Cristo, ponha o acento no amor fraterno.

De seguida, o Cardeal Patriarca afirma que, por vezes, estamos mais atentos às necessidades materiais dos nossos irmãos e descuramos a sua necessidade de conversão à fé e à esperança.
Se a fonte do nosso amor fraterno é o amor com que Deus nos ama, a ajuda material aos irmãos pode ser ocasião do anúncio do amor de Deus e de convite à conversão. Eu posso matar a fome aos meus irmãos, mas não ficarei bem com a consciência se nada fizer para os ajudar a recuperar espiritualmente o caminho da vida.

Por fim, D. José Policarpo, convida-nos, na sequência do Santo Padre, a vivermos esta Quaresma ao ritmo das três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade, o que exige de nós uma coerência com a profundidade sobrenatural da vida em união com Cristo, de cuja Páscoa vivemos, e que nos preparamos para celebrar.

Convido-vos a mergulhar no mistério de Deus, Trindade Santíssima e a arrastarmos para essa comunhão as pessoas a quem amamos com um amor que tem a sua fonte em Deus.

Neste sentido, o Patriarcado de Lisboa aceitou o convite do Santo Padre, através do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, para participar num programa de evangelização com outras onze cidades europeias, entre as quais aquelas que organizaram o Congresso Internacional para a Nova Evangelização. Para nós, Diocese de Lisboa, a participação neste programa de Nova Evangelização será ocasião de reavivar a memória do que foi o ICNE entre nós.

Este programa tem a sua sede na Catedral e no ministério do Bispo diocesano. Tem como primeira concretização o anúncio da nossa fé, para as pessoas do nosso tempo, no realismo humano da nossa população. Será prioritariamente dirigido aos catecúmenos, às famílias, aos jovens, aos intervenientes na cultura, aos obreiros da solidariedade e aos responsáveis pela construção da comunidade.
           
Outras duas formas de anúncio completarão este programa: uma proposta actual da mensagem de Santo Agostinho, anunciando a fé cristã aos que não têm fé, e uma leitura do Evangelho de Marcos.
           
Para as comunidades cristãs, o anúncio será completado com outras duas iniciativas: vivência do mistério da reconciliação através do Sacramento da Penitência, e a partilha fraterna.

A partilha fraterna do que temos, para ajudar os que têm menos, entre nós tem já a longa tradição da “Renúncia Quaresmal”. Este ano pensaremos sobretudo naqueles irmãos das nossas comunidades que foram mais atingidos pela actual crise. O resultado desta partilha engrossará o nosso Fundo Diocesano “Igreja Solidária”, pretendendo-se que cada comunidade possa destinar aquilo que recolhe aos necessitados da própria comunidade, sem esquecer que a verdadeira dimensão desta família de irmãos é a Diocese, e que uma organização diocesana, garantida pela Caritas, é conveniente e necessária.
           
O Cardeal Patriarca termina a sua mensagem com apelo a que esta Quaresma seja, para todos, uma ocasião de conversão. Cristo, que continua a querer salvar todos os homens, precisa da nossa ousadia, porque O queremos seguir e partilhar com Ele a missão, nesta sociedade que parece ter-se afastado tanto d’Ele e do Seu Evangelho.

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