Entrevista da Catequista Rute Milho ao jornal Voz da Verdade




JMJ: Mais firmes na fé para umas jornadas que continuam

Comunhão e força do Espírito Santo são duas características apontadas pela jovem Rute Milho sobre a sua experiência de participação das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), realizadas entre 16 e 21 de Agosto, em Madrid.

Rute tem 24 anos, é licenciada em engenharia e gestão industrial, animadora juvenil na paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, e frequenta a formação de animadores do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa. Juntamente com mais 39 jovens da sua paróquia, aceitou o desafio de participar nas JMJ. “Esta foi a primeira vez que participei numas Jornadas Mundiais da Juventude e foi uma semana muito marcante. Juntos, vivemos um grande espírito de comunhão e de sacrifício, uns pelos outros, e via-se claramente no rosto de cada jovem que nos rodeava, uma grande alegria e uma grande felicidade por estar ali”, disse ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Para os jovens de Lisboa, a jornada iniciou-se no dia 15 de Agosto. Nesse mesmo dia, D. José Policarpo celebrava o seu jubileu sacerdotal e, por isso mesmo, reuniu à sua volta os mais de dois mil jovens que iam para Madrid, numa celebração nos Jerónimos (ver páginas 2-3). Para Rute Milho, esta celebração “foi o primeiro contacto com todos os outros jovens” que iam participar nas JMJ e “o ponto de partida” para a semana que viria a marcar muitas vidas.

Lisboa – Fátima – Madrid
Após a celebração, faz-se festa junto ao Mosteiro dos Jerónimos. Depois das despedidas e das últimas recomendações de alguns pais, amigos e até de alguns párocos que não quiseram deixar de estar presentes junto dos seus jovens, dezenas de autocarros iniciam a marcha até Fátima. Ali, houve lugar para um jantar simples, uma celebração de envio e o retomar de um caminho que se iria prolongar pela noite dentro, rumo à capital espanhola. “A viagem foi praticamente sem dormir, o que nos deixou bastante cansados”, conta a jovem Rute. “Mas também fazia parte deste espírito de sacrifício que precisávamos de ter”, assume.

A chegada a Madrid aconteceu por volta das 9 horas da manhã do dia 16. Da parte da tarde, já depois do almoço nos restaurantes que tinham acordo de parceria com a organização e que estavam devidamente assinalados, Rute e os jovens da paróquia de Benfica decidiram aproveitar o tempo para conhecer um pouco a cidade de Madrid e descansar. “No Parque do Retiro descansou-se um pouco, mas no mesmo espaço havia a Festa do Perdão, com muitos confessionários onde os jovens se podiam confessar. Havia também uma Feira Vocacional que aproveitámos para conhecer”.

Sobre esta possibilidade dos jovens poderem recorrer ao Sacramento da Confissão nas jornadas diz: “Vi muita gente que certamente não tem o hábito de se confessar e que vinham com outro rosto, com vontade de dar um abraço a outras pessoas, muito reconfortadas e sentindo-se melhor interiormente. Alguns partilhavam que tinham receio de se confessar, não sabiam como seria a confissão… e depois, nós víamos que vinham diferentes”.

A geração de Bento XVI
No final do dia, a Praça de Cibeles acolhe a primeira multidão de jovens destas jornadas. A celebração eucarística presidida pelo Cardeal Rouco Varela, arcebispo de Madrid e presidente da Conferência Episcopal Espanhola, inaugura a 26ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude. Na homilia, referiu que os jovens que vêm a Madrid às JMJ de 2011 “são a geração de Bento XVI”, uma geração em que “os problemas e circunstâncias de vida mudaram”. Sobre esta missa de abertura das JMJ, refere Rute que, apesar do cansaço saiu daquela celebração “com uma força e energia novas. Foi um alimento que me deu força para toda a semana. Aí consegui entrar no verdadeiro espírito das jornadas”, confessa.

É possível uma relação de amor
Na quarta-feira, dia 17 de Agosto, um novo dia começa. De acordo com o programa preparado decorriam um pouco por toda a cidade diversas catequeses dos bispos, nas várias línguas.”As catequeses eram próximas dos vários alojamentos, de acordo com as línguas de expressão e a nossa foi com o Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos. Houve ainda uma sessão de testemunhos que nos marcou muito”, acrescenta. “Sobretudo porque ouvimos uma jovem deficiente falar, de forma muito simples, sobre o amor de Deus. Deixou-nos a todos a pensar porque alguém que, devido à sua condição de debilidade certamente teve alguns problemas de exclusão e descriminação na sociedade. E a forma bela como falou do amor de Deus foi algo que nos tocou a todos e naquele dia toda a gente falava sobre esse testemunho”, conta Rute Milho à VOZ DA VERDADE.

Na quinta-feira, dia da chegada de Bento XVI a Madrid, os mais de 10 mil jovens portugueses presentes nas JMJ reuniram-se para o encontro com os bispos portugueses e a Catequese com o Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo. No Arena Madrid, a Banda Jota – grupo musical católico da Diocese da Guarda – animava aquele que viria a ser um encontro onde se iriam partilhar experiências e vivências de Jornadas Mundiais da Juventude. “Tivemos de acordar cedo para estar naquele encontro, mas a animação da Banda Jota despertou-nos”, diz Rute destacando a importância das palavras que ouviu do Cardeal-Patriarca de Lisboa. Neste encontro, que concluiu com celebração eucarística, D. José Policarpo defendeu que “é preciso resolver no coração o desafio de Deus”, lembrando aos jovens que mais do que tentar “compreender tudo, ter resposta para todas as perguntas”, é preciso pensar primeiro que “uma relação maravilhosa de amor é possível com Ele”.

Para a jovem Rute, as palavras do Cardeal-Patriarca “foram importantes porque conseguiu pôr muita gente a reflectir”. A jovem de Benfica partilha a sua experiência. “O que ficou registado em mim é que independentemente do caminho que escolhermos e das nossas opções, temos sempre de ter presente a nossa capacidade de amar. Foi uma mensagem que passou e penso que falou muito próximo dos jovens. O amor que temos de pôr em tudo aquilo que fazemos é o que nos distingue, senão, não faz sentido aquilo que fazemos”.

“Não vos envergonheis do Senhor”
No final da tarde daquela quinta-feira, acontecia o primeiro encontro do Papa Bento XVI com os jovens. Antes do encontro na Praça de Cibeles, Bento XVI à chegada no Aeroporto resumia em poucas palavras o sentido da sua visita: “Venho aqui para me encontrar com milhares de jovens de todo o mundo, católicos, interessados por Cristo ou à procura da verdade que dê sentido genuíno à sua existência. Chego como Sucessor de Pedro para confirmar todos na fé, vivendo alguns dias de intensa actividade pastoral para anunciar que Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Que nada e ninguém vos tire a paz; não vos envergonheis do Senhor”, exorta o Papa Bento XVI.

Já na Praça de Cibeles, afirmava em língua portuguesa: “Sede prudentes e sábios, edificai as vossas vidas sobre o alicerce firme que é Cristo. Esta sabedoria e prudência guiará os vossos passos, nada vos fará tremer e, em vosso coração, reinará a paz”. Rute recorda-se bem deste primeiro encontro com o Papa, ainda que à distância. “Não conseguimos estar na Praça de Cibeles porque não havia espaço para tanta gente, mas conseguimos ficar num lugar onde vimos passar o Santo Padre e depois o pudemos ouvir. Recordo quando o Papa, falando em português, disse que os jovens precisavam da Igreja e a Igreja dos jovens”.

Na sexta-feira continuaram as catequeses com os bispos portugueses. Nesse dia, Rute participou na catequese orientada por D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve. “Foi uma catequese mais interactiva connosco. Falando-nos sobre o ser testemunha e o testemunho, o Bispo do Algarve disse-nos que para conseguirmos ser testemunhas temos que viver, não basta ver e ouvir”, recorda.

Neste dia, Bento XVI encontra-se, de manhã, com jovens religiosas no Mosteiro de São Lourenço do Escorial (ver página 13). À tarde, num encontro com professores universitários, pede que não se perca “jamais a sensibilidade e encanto pela verdade”, não esquecendo que “o ensino não é uma simples transmissão de conteúdos”.

No final do dia, o Papa preside à celebração da Via-Sacra. “Este foi um dos momentos altos destas jornadas”, diz-nos Rute. Na Via-Sacra, Bento XVI lembrava que “a paixão de Cristo incita-nos a carregar sobre os nossos ombros o sofrimento do mundo, com a certeza de que Deus não é alguém distante ou alheio ao homem e às suas vicissitudes”. Para a jovem da paróquia de Benfica, “as meditações foram muito profundas e, para além dessa profundidade, foi feito um paralelismo com vários aspectos da sociedade e de situações de vida que jovens como nós vivem. Foi o viver com esses jovens que estão a sofrer a sua cruz”.

No sábado, dia 20, Bento XVI celebrava Eucaristia com os seminaristas e o dia estava destinado à preparação de outro dos momentos altos das JMJ: a Vigília no Aeródromo de Quatro Ventos. De manhã, era necessário fazer o percurso de 8 quilómetros até aquele lugar, mas o caminho teve de ser percorrido mais tarde. “Tivemos de esperar pelos seminaristas Pedro e Samuel que tinham ido à missa com o Santo Padre”, revelou Rute. “O Pedro e o Samuel são dois seminaristas do Seminário dos Olivais que fazem a sua formação pastoral na paróquia de Benfica e acompanharam também o nosso grupo, além de outros seminaristas do Seminário de São José de Caparide”. Por isso, em vez de fazer o caminho durante a manhã fizeram-no à tarde. “Decidimos fazer o percurso a pé, evitando os transportes porque pensámos que entraríamos mais no espírito de peregrinação. E todo o grupo conseguiu lá chegar!”, conta Rute. Mas “o mais interessante foi o espírito de entreajuda nos elementos do grupo”.


A vossa força é mais poderosa que a chuva
A noite cai, Bento XVI chega ao Aeródromo de Quatro Ventos e durante a Vigília levanta-se um temporal de chuva e vento, agitando a enorme multidão. Mas a persistência e a vontade de estar com Papa era maior e os mais de um milhão de jovens não arredou pé daquele lugar. Molhados, mas demonstrando felicidade e alegria, permaneceram junto do sucessor de Pedro em ambiente de profunda oração. Um ambiente que se prolongou durante a exposição do Santíssimo Sacramento, em profundo silêncio. “A exposição do Santíssimo Sacramento foi um momento impressionante porque dois milhões de jovens faziam silêncio, ao mesmo tempo, sem se ouvir um único ruído”, testemunha Rute.

“Obrigado pela vossa alegria e pela vossa resistência! “ afirmava o Santo Padre. “A vossa força é mais poderosa que a chuva. Obrigado! O Senhor, com a chuva, mandou-nos muitas bênçãos. Também nisto, sois um exemplo”.

Terminada a Vigília é preciso tempo para descansar. O cansaço acumulado de vários dias já começa a sobressair e por isso mesmo, dormir não é difícil. “O cansaço era tanto que nós até dormíamos em cima de pedras”, brinca Rute.

As jornadas continuam
Com o amanhecer de um novo dia, as jornadas estão a terminar. Bento XVI vai presidir à missa de encerramento mas na consciência daqueles jovens soava algo: “Sabíamos que era o último momento das jornadas, mas também que seria o ponto de partida para as jornadas diárias que somos chamados a viver nas nossas paróquias. Tínhamos a consciência que as jornadas não terminavam ali, e só fazia sentido aquela semana toda se, depois, continuassem nas nossas vidas e no nosso dia-a-dia. Por isso mesmo, recordo dessa missa o Santo Padre ter dito que a nossa fé só faz sentido com a fé dos outros, e que também não a podemos viver isoladamente”, assegura a jovem Rute Milho.

Na homilia, Bento XVI apela a uma resposta com “generosidade e coragem”. “Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nuca me abandone”.

Para Rute, esta missa não foi o terminar mas o inicio de outras jornadas. Por isso, diz, que agora na sua paróquia “os desafios são muitos e passa por construir um programa de trabalho com os jovens, para continuar o percurso realizado. Temos sede de ir mais além e percebemos isso pela avaliação que cada um fez”.

Sobre a sua experiência pessoal de JMJ, diz: “Venho de lá mais enraizada na minha fé. Ao ver a fé de tantos jovens juntos é impossível a minha ficar na mesma. Por isso venho de lá mais firme na fé e com grande felicidade”.

Em 2013, será o Rio de Janeiro, no Brasil, a acolher a Jornada Mundial da Juventude e Rute assegura desde já: Quero ir!.

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